sexta-feira, 17 de abril de 2009

Vinicius, o craque de bola

Um dia, eu fui um jogador de futebol.

Mas não fui aqueles moleques que sonham em conquistar fama e dinheiro no clube do coração (que no futuro se converterá no "clube do coração que paga mais"). Eu fui craque! E a definição de craque vai além das questões financeiras.

Eu jogava bola pela diversão. Aquela coisa de você passar pelo adversário explorando o lado fraco dele, ou de surpreende-lo com um toque rápido ou uma ginga de corpo. De desarmar o oponente sem falta, muitas das vezes sequer usando o ombro, só a habilidade. Em suma: futebol arte, mas sem muitas firulas.

E era legal. Na minha rua as disputas eram acirradas, a coisa era tão disputada que até o par-ou-ímpar prá escolher o time tinha que ter juiz. Sempre rolavam as panelinhas, mas o mais legal era quando um time improvável era formado e ganhava de todo mundo no "10 ou 2". Não sabe o que é "10 ou 2"? Explico: 10 minutos ou 2 gols. Se desse empate, saíam os dois times, mas se do lado de fora só tivesse um time esperando, ficava o time que tinha vencido a partida anterior.

E uma vez eu e mais quatro amigos formamos "O Carrossel do Felipão".

O ano era o saudoso 1996. Férias de janeiro. Tinha futebol na quadra do Royal (o clube do lado da minha casa) todo dia à tarde, depois das 16. O time a ser batido no ano anterior era o Grêmio, campeão da Libertadores 1995 e vice campeão mundial, perdendo a final para o Ajax (HOL), de Van der Sar, Davids, Kluivert e Jari Litmanen, o melhor jogador finlandês (cuma?) de todos os tempos!

O Grêmio conquistava nossa simpatia não só por ser um clube brasileiro (e fora da disputa interna do Rio e do eterno bairrismo Rio X São Paulo), mas por ter um time de respeito. Paulo Nunes, Jardel, Dinho, Roger (aquele mesmo que quase foi campeão pelo Flu ano passado, e que fez o gol do título do Flu na Copa-BR em 2007!), Carlos Miguel, Arilson... e no banco, Luis Felipe Scolari, o já famoso Felipão.

No par-ou-ímpar eu perdi, e acabei pegando só a raspa do tacho. Na verdade, em um time de 5, tirando o goleiro (Luis Fernando) nós tínhamos 3 caras que sempre jogavam mais na marcação: eu, Lelis e Guilherminho. O São (Anderson) era o único que jogava mais prá frente. Mas quem disse que isso foi motivo prá entrega?

No início, nós vencemos nosso primeiro jogo por suados 2 a 1, de virada. Nas 3 partidas seguintes, nós empatamos na malandragem. Daí veio o apelido, porque aquele time do Grêmio era tinhoso quando tinha que ser. Mas também sabia jogar bonito. Quando começaram a nos sacanear por causa dos empates repetidos (a moral é sempre ganhar e ter postura ofensiva), nós nos reunimos no meio da quadra e fizemos um acordo:

Lelis: -
Ae, vou aceitá brincadeira não, nós 'tamo ficando na boa, é regra!
Eu: -
Vamo começá a jogá bonito então?
São: -
Galera, tô cansado, vamo ficá de fora na próxima?
Guilherminho: - Porra nenhuma! Faz o pivô lá na frente e deixa o resto com a gente!
Luis: -
Vocês vão tománocu se eu ficar sozinho aqui atrás!

Esse foi o acordo, e qualquer bom boleiro entendeu o diálogo. E daí começou a brincadeira. Foi toque de calcanhar, caneta, lençol, tabelas rápidas. Tudo temperado com a frase a la Galvão: "Tá na hora do gol!". E nós fazíamos o gol na jogada.

O que mais impressionava o pessoal era que nós sempre jogávamos atrás, como eu já citei. E entre jogar bonito, fazer firula ou jogar sério, nós sempre escolhíamos a via menos complicada. Quando dava prá brincar, rolava um lance bonito, mas quando não dava, bola pro mato que o jogo é de campeonato, mesmo na pelada que não valia uma bala Juquinha!

E foi assim com firulas, lances de efeitos e gols bonitos (eu fiz um de voleio - reflitam!) por mais umas 14 rodadas, se não me falha a memória. CATORZE vitórias! Uma hora, claro, nós cansamos. Mas foi aquela coisa: o time que ganhou fez festa, quem tava de fora esperando prá jogar fez festa, mas nós perdemos de cabeça erguida. Ninguém aguentava mais ver a gente na quadra!

E cada um saiu da quadra e se recusou a voltar em outras partidas. Lógico, estávamos cansados... eu lembro que eu não aguentava mais esticar a perna! Só o Luis ficou na quadra por mais duas rodadas, porque não tinha outro goleiro.

E aí hoje eu fico pensando... eu estou uns 35Kgs acima do meu peso ideal, meus joelhos falham em uma simples corrida... e se alguém chutar uma bola em minha direção, eu nem sei se eu conseguiria dominá-la... é a idade, crianças... é a idade. Mas e se eu tivesse nascido na Itália, terra dos meus antepassados e do futebol atual campeão do mundo (mesmo que de forma bem burocrática), será que eu teria melhor sorte com o futebol?


Com certeza sim... na minha época não tinha torcida assim, senão eu nunca teria largado o futebol... rapaziada, falando nisso, vocês já viram a mulher do Buffon, goleiro da Itália?

Definitivamente, eu só nasci aqui prá ter que ficar perto da minha mãe...

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No mais, senta o dedo nessa porra!