segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Ser testemunha da História tem seu preço...

Eu nunca tive vontade de ser professor de História... até o dia em que eu entrei em sala para a primeira aula de História Antiga, ministrada pelo prof. Paulo Célio (vulgo "Zé Colméia", e que ele nunca leia isso!). Um dia eu conto porque eu escolhi História, já que o texto de hoje não é prá isso.

Digamos que foram 4 anos de aprendizado teórico e lições de amor à matéria. Alguma coisa eu achei chata e outras eu nunca tinha gostado ANTES da bendita aula abrir meus olhos e me fazer ver que o assunto era sim mais interessante do que eu pensava. História do Brasil, por exemplo. Confesso que achava um SACO, mas saí da faculdade gostando de estudar tal matéria e hoje em dia até me interesso mais por História do Brasil do que outras áreas.

Uma das coisas que eu gosto muito (e talvez entre os estudos só a História possa te fazer sentir assim) é imaginar o fato histórico. A construção das pirâmides do Egito, por exemplo. Imagine-se lá, olhando as obras, sentindo a areia no rosto, o cheiro do Nilo chegando pelo vento, suas águas transbordando e levando vida às areias do Saara. Ou então você no senado romano, aquele ambiente carregado de disputas diplomáticas pelo poder, e você ouvindo Cícero esculachar Lúcio Catilina, vociferando: "Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra? Quamdiu etiam furor iste tuus nos eludet? Quem ad finem sese effrenata iactabit audacia?"


Já imaginou se você tivesse que tomar partido em um dos lados?

Eu acho que é por isso que muitas pessoas que eu conheço curtem História. Não por acaso, são pessoas com a cabeça boa, mente aberta e imaginação alimentada pela leitura de bons livros. Normalmente quem lê muito também curte História. Pode não ser fã de toda a História, mas tem sempre aquela curiosidade sobre determinado fato.

Eu confesso que meu sonho era ter uma máquina do tempo. Só prá poder ir a determinadas épocas e dar uma espiada em determinados fatos. Creio que é o sonho de todo(a) professor(a). E, é claro, eu quero falar justamente sobre "ser testemunha da História".

No domingo (12/09) eu estava à noite quieto na frente da TV dando uma zapeada entre o debate dos presidenciáveis na REDE TV e um ou outro canal quando vi que na Record tava passando uma reportagem sobre o 11/09, fazendo meio que uma retrospectiva dos fatos que aconteceram há 9 anos atrás.

Lembro que no dia eu estava na cantina de uma escola aqui da minha cidade (eu trabalhava lá) e o zelador da escola chega prá gente meio assustado dizendo que "Lá nos Estados Unidos tem um prédio grandão pegando fogo e tá passando até na Globo!" Nem eram 9 horas da manhã, mas o fato de estar "passando na Globo" dava uma certa gravidade à notícia. (tudo bem que a Globo idolatra os EUA, mas isso é detalhe). Na casinha onde o pessoal da limpeza guardava o material (e era do lado da cantina) tinha uma TV. Corremos prá lá, ligamos a mesma e começamos a assistir. Na verdade, não estava passando só na Globo. Todos os canais "abertos" estavam transmitindo as imagens.

E em 2 minutos depois o segundo avião atinge o World Trade Center.

Na hora até o repórter da Globo (se não me falha a memória era o Carlos Nascimento) achou que fossem imagens recuperadas pela emissora norte-americana, mas no meio daquele monte de informações desencontradas de incêndio, bomba no prédio, gente em desespero se jogando dos andares superiores e ataque terrorista nem o Nascimento (nem nós) percebemos que quando o segundo avião atropelou a segunda torre, a primeira já estava pegando fogo!

A coisa era tão surreal que foi difícil acreditar que aquelas imagens eram verdadeiras. E quando as torres vão ao chão a coisa toma ares de pesadelo! Não percebemos na hora e sequer chegamos a comentar isso nos dias posteriores, mas a partir daquele instante éramos testemunhas de um fato que iria influenciar a História do século XXI.

É aquela coisa: a tecnologia nos deixa ao lado do fato com apenas um clique do controle remoto ou do mouse. Mas aí nós somos jogados, muitas vezes, em um cenário de horror. Coisas que só a humanidade pode nos proporcionar.

Vocês já viram filmes sobre a época da Segunda Guerra Mundial que não mostram a guerra, mas sim o povo na época? Normalmente esses filmes (que geralmente são ambientados em países que não sofreram diretamente com o conflito em suas fronteiras ou territórios) tem uma cena em que as pessoas estão no cinema e antes do filme aparece um noticiário sobre a guerra com algumas imagens do front. Aquelas imagens serviam prá motivar os cidadãos a manter o apoio à guerra... mas muita coisa ali estava mastigada e muitas cenas não iam para o noticiário prá não assustar tanto.

Até os EUA invadirem o Vietnam.



Ali a coisa ficou feia. Repórteres meio que invadiram o front e levaram para a população todo o horror da guerra. Quer ser testemunha da História? Pois não, a História é feita de lutas. E essas lutas são sangrentas. Prepare seu estômago...

E quer ler mais sobre o 11/09? Escrevi um texto sobre ele no HistóriaZine.
Passa lá!!!

2 comentários:

  1. Ah! Fantástico. Adorei o seu texto e em algum momento da minha vida pensei ser a única a "me sentir" inserida nos acontecimentos passados. História sempre foi minha disciplina favorita no colégio. Hoje, apesar de não precisar tanto, leio a antiga Roma, Grécia, o Renascimento, etc. Assuntos que me dão prazer em ler. Identifiquei-me com o texto porque, como você expôs, eu me sentia caminhando pelas ruas enquanto as pessoas na Europa morriam com a peste negra, imaginava as grandes decisões de Napoleão, era uma viagem fantástica. E ainda é, na verdade.
    O interessante do Homem, é que ele está sempre a olhar para o passado, e não se dá conta da importância dos acontecimentos atuais.
    Excelênte texto.
    Parabéns.

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Seguinte: essa bagaça é moderada, mas não tenha medo de comentar. Mas se você xingar a mãe alheia (principalmente a minha) eu dificilmente vou aprovar seu comentário.

No mais, senta o dedo nessa porra!