sexta-feira, 10 de abril de 2009

O Jesus Histórico

ATENÇÃO: este post não tem como objetivo discutir fé, e sim História. Estão avisados!

A coisa que mais aguçou minha curiosidade no primeiro ano da faculdade foi justamente poder estudar e discutir a vida de Jesus de Nazaré. Não aquele homem milagreiro da Bíblia, e sim o homem mortal, político, judeu e revolucionário que talvez tenha existido na Galiléia no início do que normalmente nós chamamos de "Era Cristã".

Sim, Jesus é estudado com afinco por milhares de historiadores espalhados pelo mundo. Mas estes historiadores não usam somente a Bíblia como fonte histórica. O livro, inclusive, não é considerado uma fonte confiável, já que com o passar dos séculos sofreu diversas alterações, sempre visando um melhor entendimento por parte do rebanho. Na pesquisa histórica, os axiomas teológicos ou religiosos ficam de fora, por motivos óbvios.

A partir da pesquisa histórica, é quase certeza afirmar que Jesus viveu na Galiléia, teve um pequeno grupo de seguidores e foi crucificado na Palestina na época do governo de Pôncio Pilatos (portanto, durante o império de Caio Júlio César Otaviano Augusto). Pronto. A partir deste consenso, alguns especulam, outros pesquisam mais a fundo, mas no fim das contas ninguém chega a um denominador comum sobre a vida de Jesus.

Como pode o homem mais seguido, mais falado e mais discutido no ocidente há mais de 2 mil anos não ter uma história "oficial"? É simples: não há uma documentação confiável. E não venham falar da Bíblia, pois os Manuscritos Apócrifos de Nag Hammadi já mostraram que a fonte bíblica não é lá muito confiável.

Mas então, quem DE FATO foi o Jesus Histórico?


Esse aí, claro, é o Adriano Siri fantasiado de John Lennon...
[crédito: foto tirada pelo próprio blogueiro que vos escreve na quarta fila (morram de inveja!) do Cine 9 de abril, em Volta Redonda... montagem também de próprio punho, sem milagre, só o bom e velho photoshop... que de vez em quando faz milagre, mas não vem ao caso agora...]


Não pensem que eu vou destilar um discurso pró-romance do Dan Brown. Longe disso, até porque não dá prá levar em conta um romancista que reúne um estudo de um historiador inglês com suas (as dele) interpretações sobre a Bíblia e meia dúzia de pinturas de um artista genial, dotado de licença poética e que adorava dar uma sacaneada na Igreja Católica e levantar a idéia como se fosse a bandeira da verdade. Não... se você pensava que eu ia cair na asneira de citar Dan Brown (e confesso, já li todos os livros do cara lançados no Brasil), está muito enganado.

Aliás, deixa eu abrir um parêntese aqui: Dan Brown apenas escreveu uma estória intrigante, e teve mérito em usar as falhas de concordância no texto bíblico e a arte de Da Vinci para criar a polêmica em cima da vida de Jesus. Só isso!

Talvez pela falta de interesse das grandes editoras brasileiras que publicam trabalhos acadêmicos, ou quem sabe, uma conspiração para que a população nunca discuta o assunto de forma séria, a verdade é que no Brasil os estudos sobre a vida de Jesus chegam para os leitores pelas editoras esotéricas, o que retira completamente a credibilidade acadêmica da coisa, de modo que vocês devem estar imaginando que no Brasil esse assunto é motivo de piada no meio acadêmico. E é!

Mas como eu já disse, existe um consenso:

1) O Jesus mortal
Vamos fazer o favor de esquecer a concepção imaculada? Nem sua vó beata acredita mais nisso, apesar de jurar de pé-junto que acredita. É impossível algo assim acontecer, e essa versão da maternidade de Maria vem de encontro com a idéia de pureza vigente na Idade Média, onde a mulher tinha que guardar sua virgindade a sete chaves fechando o cinto de castidade.

Já a parte do evangelho que fala sobre a crucificação já recebeu dezenas de interpretações, até mesmo dos que acreditam que Jesus não morreu na cruz. Portanto, sequer ressucitou! Mas acredite, tanto sua imortalidade (Kardec explica esse conceito como ninguém, e aí Jesus é imortal... e VOCÊ TAMBÉM! Vá le-lo, você vai entender) quanto sua vida de milagreiro não devem ter sido mais que o uso de figuras de linguagem para representar suas passagens.

2) O Jesus político
Alguns estudos garantem: Jesus era descendente direto da tribo de Davi. Portanto, tinha condições de reivindicar a liderança política dos judeus. Essa situação deve ter encorajado Jesus a levantar sua voz contra as lideranças judaicas na época, mas essa parte eu queria explicar com mais detalhes no item número 4, ok?

De início, saibam que Jesus foi muito influente no seu tempo. E a seu modo e sem levantar os mortos das tumbas.

3) O Jesus judeu
Vocês acreditam que alguns católicos crêem que Jesus era... católico??? Quando? Onde? COMO??? A religião católica foi uma invenção de Pedro, e homologada no século III da "era cristã" pelo imperador Constantino. Portanto, pode parecer estranho, mas Jesus nunca seguiu qualquer recomendação do Vaticano.

E isso inclui a parte que diz que ele deveria manter a castidade. E se o casório foi com Maria Madalena, que paga o pato na Bíblia como puta, ou com outra mulher, não importa. Judeus entendem que casar é um bom negócio, e pronto!

4) O Jesus revolucionário
Talvez o aspecto mais interessante da vida de Jesus e que mais causa espanto nas pessoas quando eu comento sobre é justamente a face revolucionária de Jesus. Sim, o cara queria mudar muita coisa entre os judeus.

Apesar de toda a descrença de muitos professores que eu já conversei sobre o assunto, existe a quase-unanimidade com relação à crucificação ter sido motivada pelo discurso crítico de Jesus ao chegar ao Templo de Salomão e observar que ali, em um lugar sagrado, o comércio era grandioso, desvirtuando tudo. Ou seja: o "hômi" quis mexer no bolso de quem mandava, e foi sumariamente castigado por isso. Tanto que os líderes romanos tiraram o deles da reta e deixaram a própria população condenar Jesus.

Há até uma famosa frase, atribuída a Jesus, que diz mais ou menos assim: "Aquele que não tem espada, venda sua capa e compre uma espada." Jesus desejava um levante contra os romanos, mas antes desejava a união dos judeus, independente da corrente religiosa seguida pelos grupos. A idéia era expulsar os romanos do comando da Palestina.

E com um discurso realmente convincente, foi amealhando seguidores e conquistando respeito por onde passava, até chegar a Jerusalém. O resto é história, mesmo sem fontes confiáveis.


Bom, é isso. Está grande, sem citação de fontes, e é a MINHA visão sobre Jesus. Peço a futuros xiitas que nem se dêem o trabalho de comentar com raiva, ou usando palavras de baixo calão. Não vou aprovar os comentários e pronto. E àqueles que gostam de uma discussão sadia, fiquem à vontade, o espaço dos comentários está aí prá isso.

E amanhã, não se esqueçam: é dia de malhar o Judas, não porque ele foi um dedo-duro, mas porque é engraçado prá cacete!


3 comentários:

  1. A tentação de se transformar fé em História criou um dilema ético de difícil solução para a cristandade. A atualidade dessa questão tão antiga sublinha o poder do Jesus cultural sem nada acrescentar à sua “figura histórica”. No assunto da não existência do Jesus histórico, além da argumentação disponível na Internet, evidentemente como um reflexo de laboriosas pesquisas, existia uma pergunta para a qual eu não encontrava resposta: por quê? Tudo tem a sua razão de ser, principalmente a instituição de uma nova cultura religiosa do vulto do cristianismo. Seria possível que o fundador desta crença jamais tivesse existido? Seria sim. Entretanto, para mim, faltava explorar o problema por um lado inequívoco e digno de uma acurada apreciação ─ a necessidade de tal concepção. O jeito foi pesquisar. Investi alguns anos na dedicação dessa tarefa. Minha curiosidade aguçou-se por não encontrar livro algum voltado a esclarecer assunto tão relevante do ponto de vista histórico. A versão da História Universal me parecia um esparadrapo sobre uma antiga ferida. Destoava da cor e da natureza do tecido daquilo que nos é apresentado como História. O resumo da minha pesquisa está publicado na Internet, como um e-book, no site http://www.ebooksbrasil.org/ Clique em “Entrar” e depois em “Nacionais” no pé da página. O título é: Jesus Cristo – um presente de gregos, de Ivani de Araujo Medina. Minha tese oferece outra versão da história do cristianismo e é apresentada de forma simples para o leitor comum. Assim sendo, você terá a oportunidade de conhecer uma dissertação que escapa da forma usual de como o assunto é tradado. Será um prazer trocar idéias a respeito.

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  2. Bruno Bauer (1809-1882), filósofo, teólogo e historiador alemão, licenciado em teologia lecionava na universidade de Bonn. Por ser um investigador minucioso e um estudioso intelectualmente honesto, depois de investigar as fontes do Novo Testamento chegou à conclusão de que este livro era mais grego do que judeu e que Jesus Cristo era um mito criado no segundo século. Por causa disso perdeu o emprego de professor. O emérito historiador e professor da Sorbonne, Henri Irénèe Marrou (1904-1977), aconselhou aos futuros historiadores: “O historiador não avança sozinho ao encontro do passado. Aborda-o como representante do seu grupo.” Evidentemente, digo que ele “aconselhou” como um eufemismo, porque desde o quarto século da nossa Era a versão religiosa daquilo que se tornaria a história universal tornou-se obrigatória. A razão disso é que o cristianismo nunca foi uma simples religião, como se imagina. O cristianismo já nasceu como uma cultura religiosa. Uma religião como a umbanda, por exemplo, nunca deteve o poder civil, o cristianismo já. Tecnicamente o cristianismo se chama a nova cultura, surgiu como um antídoto ao judaísmo e um divisor de águas à cultura do mundo antigo. A preocupação número um de uma cultura que se impõe é a educação e conseqüentemente com o ensino. Todos os historiadores conhecidos são apaixonados cristãos, especialmente àqueles que se dedicaram à história da educação. A história tem o papel primordial na preservação do cristianismo e da filosofia que o sustenta. Toda documentação histórica encontra-se desde o quarto século sob a guarda da nova cultura que fez dela o que bem quis. Depois de dois mil anos, é inconcebível que nada além de Tácito, Plínio o Jovem, Suetônio e Flávio Josefo (reconhecidamente adulterado) puderam ser apresentados? O Talmude é uma obra tardia cuja preocupação era falar mal de Jesus para proteger o judeu menos culto da propaganda cristã. Não existe nada a respeito de Jesus nem sobre o chamado cristianismo judeu fora da história cristã. A defesa do Jesus histórico é na verdade o prosseguimento a um favorecimento ideológico. Como não existem argumentos históricos, argumentos os filosóficos sobram no meio acadêmico confundindo os inexperientes. Não são os historiadores engajados que dão historicidade a personagem algum, sim as evidências da sua passagem por esse mundo. Bruno Bauer era só uma andorinha, mas o verão é certo.

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Seguinte: essa bagaça é moderada, mas não tenha medo de comentar. Mas se você xingar a mãe alheia (principalmente a minha) eu dificilmente vou aprovar seu comentário.

No mais, senta o dedo nessa porra!