terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Pretinha...

... eu faço tudo pelo nosso amor... eu faço tudo pelo bem do noso bem meu bem...

Não, não... não é daquela música do Seu Jorge que eu queria falar. É da Pretinha, uma cadelinha que eu adotei lá pelos idos de 2000, quando eu não tinha muita coisa prá fazer e ficava só na tríade trabalho-casa-boteco. Claro que eu tinha que fazer merda.

Não pela adoção da cadelinha (uma filhote de pastor alemão com pastor belga) em si, mas sim porque minha mãe ODEIA cachorros. Sim, senhores, minha mãe tem verdadeira ojeriza a qualquer animal, e um que pode chegar e cheirar o pé dos outros (e o dela também) é ainda mais abominável. Mas eu encarei as reclamações da minha mãe. Trouxe a cadela prá casa, e comecei a cuidar do bicho. Meu irmão me ajudava um pouco, e meu pai fazia festa com ela o dia inteiro se deixasse. E assim íamos vivendo e a Pretinha vivendo e latindo. Pouco, porque ela era uma cadela de classe, não latia à toa.

Ela ficava presa na coleira o dia todo, e quando eu prendia minha mãe dentro de casa, já altas horas da noite, eu soltava a Pretinha no quintal. Naquela época, o quintal daqui de casa nem era murado, só tinha cerca de arame, mas tinha portão na escada. Ela não fugia, até porque tínhamos montado umas gambiarras prá ela não fugir. E como cachorro é um bicho meio burro (e preguiçoso) prá essas coisas...

Pois bem... um dia eu acordei como de costume, fui limpar a sujeira no quintal e brincar um pouco com ela antes de prende-la de novo... e ela não estava no quintal. Chamei... assoviei (ou assobiei?) chamando, e nada! Porra, a cadela sumiu! Perguntei na vizinhança durante o dia e nada de Pretinha!

Passaram uns 4 dias, e quando eu já tinha perdido as esperanças de encontrar a maldita, eis que batem na minha porta dois homens vestindo sobretudo e chapéu-côco. Um deles ainda segurava uma curiosa lupa, e o outro fumava cachimbo. Falavam em um português arrastadíssimo, que eu não vou reproduzi-lo por preguiça mesmo. Mas nosso diálogo foi mais ou menos assim:

- Bom dia... por acaso o senhor é o senhor Vinicius Cabral?

- Sim, sou eu. O que desejam? - o segundo homem permaneceu calado.

- Somos da Scotland Yard. Eu sou o Agente Strawberry, e este é o Sargento Peppers.

- Ele não seria um Agente também? Mesmo nível... - o Agente interrompeu minha fala com a famosa fleuma britânica:

- Pfff... por favor, senhor, não atrapalhe a piada.

- Ah tá, desculpem. Prossigam, por favor. - o segundo homem agora examinava o portal cuidadosamente. O Agente então mostrou uma foto. E a Pretinha estava nela!

- Reconhece esta cadela?

- Sim, é minha cadela! Mas ela parece que está...

- Morta, isso mesmo! - o Sargento, enfim, entrara na conversa. E do mesmo jeito que entrou, saiu, porque agora ele examinava a fechadura da porta.

- Sua cadela foi encontrada morta no centro de Stonehenge. - completou o Agente.

Aí eu tinha me tocado nos detalhes da foto. Realmente, dava prá ver alguns dos familiares monolitos de Stonehenge. Lógico que eu tinha que perguntar:

- Mas quem a deixou lá? Assim, morta...

- Isso é o que queremos saber, senhor, e estamos trabalhando no caso. Agora, apenas gostaria de informá-lo oficialmente que o senhor está em débito com a Coroa britânica. Por favor, leia.

E o Agente me entregou um papel. Nele constavam algumas linhas com alguns valores que, segundo meu porco inglês, era um somatório de multas. - O senhor pode me ajudar com isso? - perguntei, e o Agente então passou a enumerar os tópicos:

- Deixar um animal solto em vias públicas; Deixar o animal sujar as vias públicas; Sujar as vias públicas com o animal... entenda, senhor Cabral, que o animal é seu...

- Sim, sim, eu entendi... prossiga...

- Estacionamento indevido de nave espacial...

- O QUÊ?????????????

- Sim senhor. Estamos trabalhando com a hipótese de sua cadela ter sido abduzida e colocada lá por extraterrestres. E como não existe outro campo de pouso de OVNIs por perto, podemos deduzir, de forma elementar, que a nave estacionou ali para, como vocês dizem no Brasil mesmo... ahm, desovar o corpo.

- Mas eu não tenho nada a ver com isso! E quem me garante que não foi gente da polícia de vocês que a matou e colocou lá? Vocês já mataram brasileiro achando que era terrorista...

- Nós? Senhor, nós britânicos amamos o Brasil! - nisso o Sargento saiu do transe e entrou novamente na conversa:

- Nós amamos o Cristiano Ronaldo... brasileiro bom de bola aquele, não é, Agente Strawberry? - eu estava embasbacado. O Agente continuou, animadíssimo:

- E o Tevez? Joga muito, nem parece que nasceu em Buenos Aires!

- Mas... mas... - eu não sabia o que falar! O Agente então despediu-se, enquanto o Sargento apenas meneava a cabeça.

- Senhor Vinícius, tenha um bom dia. Qualquer informação do andamento do processo, nós entraremos em contato com o senhor. Passar bem.

E os dois foram embora prá nunca mais aparecer. Sei lá, eu fiquei ali parado um tempo olhando o papel, e acabou que eu nunca paguei aquelas multas.

Também, não recebi mais notícias do caso...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguinte: essa bagaça é moderada, mas não tenha medo de comentar. Mas se você xingar a mãe alheia (principalmente a minha) eu dificilmente vou aprovar seu comentário.

No mais, senta o dedo nessa porra!