sexta-feira, 2 de julho de 2010

Saber perder

Eu aprendi a perder. Pelo menos no futebol.

Cresci na década de 1980. Portanto, cresci perdendo sistematicamente para argentinos, uruguaios, italianos, franceses. Sempre faltava alguma coisa, diziam os idiotas da objetividade. Mais garra. Mais vontade. Poder de decisão.

Aí veio 1994. Mas antes, a até mesmo invicta seleção canarinho na história das eliminatórias perdeu prá Bolívia! Ou seja: éramos tetra, mas com aquele pézinho atrás. Campanha manchada.

Veio o entrecopas, bons resultados com a seleção e o caminho relativamente fácil (mais pela qualidade dos atletas do que outra coisa, diga-se de passagem), até a final em 1998 que, bradavam os empolados, foi vendida, só faltava o presidente da CBF mostrar o recibo.

Prá piorar as coisas, Felipão me pega um time capenga e leva ao título em 2002. "Viu? Vendeu 1998 prá ganhar 2002!", diziam os teóricos da conspiração. O pé continuava atrás, mesmo com os adversários atropelados até 2006.

Em 2006, uma constatação: a zona impera, atrapalha (e atrapalhará) o trabalho de qualquer treinador que veste ou que venha a vestir o casaco verde-e-amarelo. Para o lugar de saco-de-pancadas oficial do Brasil (depois do presidente da nação), um anão acostumado a apanhar.

Jogados aos leões, exigiu disciplina e dedicação dos comandados. Tentou ajudar os desgarrados do projeto 2010. Deu tempo. Teve paciência. Aturou críticas gratuitas. Deu a cara à tapa. Bradou. Foi questionado. Xingado. Quando xingou, jogaram mais pedras.

Mas montou, com o tempo, um grupo campeão. Há tempos não éramos mais "a cereja do bolo" de alguém. Respeito. Uma "arrogância" positiva. Alguns dos melhores do mundo em posições que já foram bem carentes nas duas últimas décadas (lembram do sufoco do Felipão em armar um sistema defensivo minimamente confiável em 2002?).

Confesso, estava desacostumado. As coisas andavam sem emoção. Tava fácil demais! Ainda mais no futebol, quando uma simples bobeira, uns 10 minutos mal jogados poderiam botar uma partida a perder. Isso não acontecia!

Mas, como eu ia dizendo, é só futebol. E a derrota veio, enfim, prá um time que levou um passeio de bola nos primeiros 45 minutos, com direito à última jogada antes do apito do intervalo ser muito parecida com aquela que fechou a Copa de 1970 com o gol do Carlos Alberto. Chegamos perto da perfeição? Será???

Mas os já citados "10 minutos mal jogados" no segundo tempo fizeram a diferença.

Vou jogar pedras? Vou chamar alguém de burro? Não... eu nunca faria isso... lembrem-se, eu sei perder. Eu aprendi a perder.

E não posso falar mal de uma pessoa que, mesmo quando podia, quando todos os microfones estavam esperando palavras de desaprovação aos erros gritantes de alguns de seus comandados, da falta de garra de outros e da falta de poder de decisão de uns 2 ou 3 que foram convocados justamente para decidir, não jogou qualquer um de seus comandados aos leões.

Porque ele sabe o quanto dói ficar marcado com uma "Era" em seu nome.

Isso, prá mim, foi atitude de homem. Podem xingá-lo à vontade. No fim, o verdadeiro vencedor é o Dunga.

E chega de Copa.

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No mais, senta o dedo nessa porra!