Cosme e Damião

Segundo a Wikipédia (#preguiça... sim, porque é segunda-feira, dá um desconto!) Cosme e Damião eram dois irmãos gêmeos que viveram por volta do século III lá naquele caldeirão conhecido como Oriente Médio. Nasceram na região da Arábia, estudaram medicina na PUC da Síria e foram cuidar dos mais necessitados lá pelos lados da Egéia.

Como naquela época o esporte favorito dos imperadores romanos ainda era caçar cristãos, os dois foram perseguidos, acusados de exercer a medicina de forma gratuita (e em nome de Jesus) e quase quebraram dois planos de saúde da época por causa disso.

Como pena pelo exercício ilegal da medicina e o desapego aos bens materiais, foram decapitados, mas viraram santos. Tanto para a Igreja Católica quanto para o Candomblé os dois quase sempre são relacionados a proteção às crianças.

Independente da História dos santos, o que a gente mais queria saber na época de moleque era: ONDE TÁ DANDO DOCE?

E o lance é o seguinte: o pessoal tem costume de fazer pedidos pros dois. Se a graça é alcançada, rola cumprir a promessinha básica: distribuir doce gratuitamente no dia 27 de setembro prás lombrigas ávidas por açúcar da molecada do bairro (ou da cidade, dependendo da sua condição financeira). E isso durante 7 anos seguidos.

Como brasileiro adora fazer uma promessa e não é coisa boa deixar de cumpri-la, tome doce dia 27 de setembro. E tome criança na rua correndo atrás de doce, empurradas pelas solitárias em frenesi dentro da barriga. 27 de setembro é meio que um halloween em terras tupiniquins, mas sem o lance das travessuras e as fantasias de monstros, bruxas ou fantasmas. Só os doces. Manjou?

Mas se você é protestante a coisa fica meio esquisita, né? Lutero provavelmente foi uma criança que não ganhou muito doce em sua época, e eu imagino quando ele começou as suas pregações pela Europa como eram seus discursos anti-catolicismo:

"- E vamos parar com esse lance de santo, porque a Bíblia não manda adorar imagem, principalmente daqueles dois gêmeos atrevidos e seus doces tenros e deliciosos (enxuga uma baba caindo no canto da boca). E vamos parar de adorar também daquele astronauta que fica contando vantagem porque matou o Willy*!"

A verdade é que protestante e doce de Cosme e Damião não se dão muito bem. Junte-se a isso a "fama" dos doces serem coisa de macumbeiro (por causa da forte associação dos dois santos com o Candomblé) e temos um quadro assustador. Para as crianças que ficarão sem doces e os dentistas que terão poucas cáries prá cuidar, claro!

Mas uma vez eu quase matei um evangélico engasgado. Cheguei no serviço como quem não quer nada, abri um pacote de pé-de-moleque, coloquei-o na gaveta, peguei dois e fui com eles na mão em direção ao cara mais chato da Paróquia. Ou do Templo, como preferir.

Já cheguei mordendo um, e ofereci o outro prá ele que, como todo mala que se presa, não recusou o doce. Foi comendo, comendo... "Hmmm, tá gostoso, hein? Tem bastante amendoim! Comprou onde?" e quando tava quase no fim, eu mandei:

- Comprei não. Peguei de um saquinho de são Cosme e são Damião que meu irmão ganhou na volta do colégio.

O Exército do Apocalipse.
Ou pelo menos o alimento dos soldados...
Amigos, voou amendoim prá todo lado! Foi épico!

É isso. E viva são Cosme e são Damião!


(*) Willy é o dragão.